Deficiente das 'idéia'

Fomos almoçar no Pampa sábado passado, como fazemos há anos. Nossa família toda costuma ir lá e com freqüência. Sempre somos bem tratados e até já temos uma certa amizade com os funcionários e com os proprietários.
Essa 'amizade' que me deu a liberdade de comentar com o Sérgio, um dos sócios do estabelecimento, sobre a falta de respeito dos fregueses ao ocupar a vaga de estacionamento destinada aos deficientes físicos. A resposta dele que me espantou:
— Eu até já comentei com meu sócio, tô pensando em tirar essa vaga daí. Ninguém respeita e eu não posso adivinhar quem é deficiente. Às vezes pode estacionar alguém aí que é 'deficiente das idéia'. Como vou saber?
Eu tentei argumentar dizendo que ele precisava criar uma consciência na freguesia para que guardassem essa vaga para quem tem alguma dificuldade de locomoção.
Ele voltou à carga:
— Tem dia que tem 300 pessoas aí dentro — e apontou para o salão — pode ser que tenha uns 3 ou 4 'deficiente das idéia'. Fica difícil de saber.
Disse e foi saindo. Deixou a mim e ao Gabriel meu cunhado, que acompanhou a cena, meio embasbacados.
Sinceramente, eu não esperava que um comerciante pudesse pensar dessa maneira. Muito menos quando esse comerciante é também secretário municipal de Serviços Urbanos. Fiquei chocado. A gente vê aqui em São Paulo o tratamento que dão aos deficientes físicos e idosos. Sempre com vagas demarcadas, preferência em filas, atenção redobrada no comércio.... Não é pelo privilégio em si, mas pela consideração para com quem tem alguma dificuldade, seja ela motora ou mental.